quarta-feira, 29 de maio de 2013

Adaptação e mitigação às mudanças climáticas devem ser prioridade


É preciso descobrir como fortalecer a resiliência da Mata Atlântica, onde mora a maior parte da população brasileira 
Moradia de mais de 70% da população brasileira, a Mata Atlântica está fortemente sujeita às quatro grandes ameaças das mudanças climáticas: aumento da temperatura, elevação do nível do mar, eventos extremos e alteração no regime de precipitação (incluindo grandes secas). Por conta disso, a discussão para este território precisa considerar fortemente as medidas de adaptação a essas ameaças. A informação é de Karen de Oliveira Cope, diretora de Políticas para Adaptação à Mudança do Clima, do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

As maiores cidades do Brasil, como São Paulo e Rio, 
 ficam na Mata Atlântica.
(foto: Silvia Marcuzzo) 

Medidas de mitigação das emissões na Mata Atlântica são importantes, “mas faltam dados de vulnerabilidade para a região, onde há chances de perda de 30% da biodiversidade até 2050, conforme o 1º Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudança do Clima”, disse a diretora da Secretaria de Mudanças Climáticas do MMA, durante a Semana da Mata Atlântica, evento que terminou dia 28 de maio, em São Paulo.

“Precisamos pesquisar e descobrir como fortalecer a resiliência da Mata Atlântica para as mudanças climáticas”, disse a diretora, que participou da mesa “O potencial na Mata Atlântica como sumidouro de carbono e a necessidade de adaptação às mudanças climáticas”. O evento foi uma realização conjunta do MMA, Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Rede de ONGs da Mata Atlântica, com apoio da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável.

Para Bernardo Strassburg, diretor executivo do Instituto Internacional pela Sustentabilidade e coordenador do grupo de trabalho de Economia e Restauração do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, o potencial de mitigação na Mata Atlântica é alto, por conta da biodiversidade e das possibilidades de fixação de carbono. Além disso, a restauração é uma alternativa de geração de emprego, renda e que minimiza riscos à população, como a ocorrência de enchentes e deslizamentos.

Strassburg ressaltou que a Mata Atlântica possui 15 milhões de hectares aptos para restauração com pouca possibilidade de geração de conflito com outros usos da terra. No entanto, é uma atividade econômica de longo prazo, custo alto por hectare, além da falta de informação para produtores e sociedade e falhas de mercado. Para resolver essas questões, o especialista mostrou que várias alternativas têm sido estudadas, como a utilização de espécies exóticas (como o eucalipto) nos primeiros anos de restauração, que depois seriam retiradas, e a utilização de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) de carbono e água nos primeiros anos do processo, até que os retornos relacionados aos produtos florestais – potencialmente mais rentáveis – comecem a chegar.

“As metas de restauração para a Mata Atlântica são ambiciosas e demandam níveis altos de investimento em algo que provém produtos e bens”. Ele avalia que com a utilização do PSA de carbono na restauração pode ser criado um sistema sustentável que se retroalimentaria. “É isso que tentamos mostrar dentro do Pacto”, disse o coordenador do GT.

Reconhecer e demonstrar o valor da conservação dos ecossistemas e da biodiversidade também é um caminho importante para garantir recursos para a proteção da Mata Atlântica. Segundo Susan Edda Seehusen, diretora executiva da Conservation Strategy Fund (CFS), este tema é conhecido como Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês), que mostra a importância econômica de se levar em consideração os serviços ambientais nos investimentos públicos e privados.

Susan apresentou exemplos concretos, como um estudo realizado em um bairro da cidade de Teresópolis, destruído pelo deslizamento na região serrana do Rio de Janeiro em 2011. A análise mostrou que o custo da tragédia na área ficou entre R$ 127 milhões e R$ 425 milhões, enquanto o custo de realocar os moradores para outras áreas ficaria entre R$ 7,7 e R$ 21,2 milhões. Susan conclui que é mais econômico e vantajoso realocar as famílias e recuperar a área, nem que demore 180 anos para acontecer outra tragédia.

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